Cair, se machucar e levantar. Entre um tombo e outro, a criança cria resistência para lidar com o mundo.
Diferença entre risco real e suposto
Dizer que é preciso que crianças corram riscos para sair da zona de conforto e se preparar para o futuro não significa de modo algum colocá-las em perigo, mas dar espaço tanto para o sucesso quanto para o fracasso em determinadas situações. A engenheira florestal, mestre em conservação de ecossistemas e pesquisadora do programa Criança e Natureza, do Instituto Alana, Maria Isabel Amando de Barros, defende que as crianças precisam de acidentes de pequena consequência para aprender a evitar os grandes acidentes no futuro. Ela explica que há uma distinção entre risco real e risco percebido, aquele que deve ser incentivado.
“O risco real é aquele que existe em andar de bicicleta fora da ciclovia, em uma avenida movimentada ou deixar uma criança que não sabe nadar sozinha ao lado de uma piscina. O risco percebido é aquele que a criança sente como excitante e emocionante, em que há, sim, a ameaça de algum machucado, sem consequências graves”, explica.
Cabe aos adultos, segundo a pesquisadora Maria Isabel de Barros, proporcionar às crianças experiências adequadas em termos de dificuldade e progressão, possibilitando que elas próprias percebam quando há limites e quando é preciso ir adiante e enfrentar um novo desafio.
Fonte: lunetas.com.br
Em 2017, a rede global de organizações educacionais ISGA (International School Grounds Aliance), publicou um documento (em inglês) que recomenda correr riscos na infância como uma forma de proporcionar bem-estar para as crianças e desenvolvimento de competências cognitivas, sociais, físicas e psicológicas. Entre elas a resiliência, precaução, autoconfiança e autonomia, além de reconhecimento sobre as próprias habilidades e limites.
Nesse sentido, por meio da Declaração de Ubud-Höör, essas organizações estimulam pais, comunidade escolar e gestores públicos a permitir e oferecer às crianças espaços e atividades que incluam assumir riscos. Essa também é uma ideia defendida pela Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança, em seu artigo 31.
“Em termos práticos, significa permitir que as crianças tenham liberdade de decidir até que altura querem escalar, até onde querem explorar um parque, andar sozinha de um lugar para o outro, brincar com ferramentas de verdade, fazer uma fogueira e assim serem ativas”, afirma a pesquisadora do projeto Criança e Natureza, do Instituto Alana, Maria Isabel de Barros.
Assim, segundo ela, as crianças podem aprender a reconhecer e avaliar desafios de acordo com sua própria habilidade, se forem dadas a chance de praticar.